quarta-feira, 6 de julho de 2011

Conclusão :: texto 1 :: A aristocracia espiritual gnóstica na perspectiva da Nova História - por Jefferson Ramalho

Conclusão

Tentamos fazer uma reflexão sobre o gnosticismo a partir de uma historiografia proposta pela Nova História. Detivemos-nos, somente, no campo das ideias, da mentalidade gnóstica. Recorremos a algumas poucas referências que já têm estudado a história da religião cristã seguindo parâmetros historiográficos que não se reduzem ao exercício da mera narrativa, do factual, mas que se mergulham num empreendimento de problematização da história. Aqui, porém, mais que uma história problema e totalizante, delimitamos nosso trabalho na compreensão daquilo que o gnosticismo pensava.

Foi naquele contexto mítico no qual a religião cristã nasceu que a gnôsis já se fazia presente. Além de elementos filosóficos, ela se apresentou como uma doutrina soteriológica, que se fundamentava em revelações supostamente espirituais. A diversidade que lhe era peculiar demonstrou suas complexidades. Tratava-se de um movimento sem unidade religiosa, organizacional, institucional. Tanto houve diversos tipos de gnôsis que é possível falar não somente em gnosticismo cristão, mas também judaico, grego, egípcio e até islâmico. Há quem atribua suas origens ao zoroastrismo.

Entendemos, sobretudo, que apesar da diversidade, o gnosticismo possuía uma condição de superioridade espiritual por ele identificada que aqui optamos por chamar de aristocracia espiritual. Contudo, não concluímos que esta condição esteve presente unicamente nessa corrente religiosa ao longo da história. Toda tendência de espiritualidade cristã ou não cristã sempre carrega consigo certa aristocracia espiritual. Típica dos movimentos religiosos exclusivistas, essa condição permanece existindo em boa parte das confissões de fé existentes no mundo.

Afirmarmos que a aristocracia espiritual é uma das várias razões e argumentos do fundamentalismo religioso continuar existindo, talvez não seja um exagero. Normalmente, quem defende a supremacia de uma bandeira religiosa e afirma ter tido sua vida transformada pela divindade que se esconde por detrás daquela bandeira, além de promover a intolerância e a violência – verbal e/ou física – tende a considerar sua espiritualidade superior a qualquer outra.

Neste sentido, qual tendência religiosa exclusivista não se mostra detentora de uma aristocracia espiritual como a que contemplamos nessa releitura que fizemos do gnosticismo? Com tantas ofertas religiosas existentes na atualidade, é possível encontrar mais ou menos propostas que se caracterizam pela aristocracia espiritual? Até que ponto as críticas feitas por correntes cristãs ortodoxas ao gnosticismo fazem sentido? Não seriam os monasticismos, o calvinismo, o pentecostalismo e tantas outras ramificações cristãs as grandes herdeiras e mantenedoras da aristocracia espiritual gnóstica?

Em alguns dias, um novo artigo, ok!

Abaixo, toda a bibliografia utilizada para a produção deste.

Abraços,
Jefferson

Bibliografia
DANIÉLOU, Jean; Marrou, Henri-Irenée. Nova história da Igreja – dos primórdios a São Gregório Magno. 3. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 1984. (Coleção Nova História da Igreja, vol. 1).
EUSÉBIO DE CESARÉIA. Historia eclesiástica; [tradução Argimiro Velasco-Delgado, O.P.]. – Madrid: Biblioteca de autores cristianos, 2001.
EUSÉBIO DE CESARÉIA. História eclesiástica; [tradução Wolfgang Fischer]. – São Paulo: Fonte Editorial, 2002.
FRANGIOTTI, Roque. História das Heresias (Séculos I-VII) – Conflitos Ideológicos dentro do Cristianismo. São Paulo: Paulus, 1995.
JONAS, Hans. The Gnostic Religion – The Message of the Alien God and the eginnings of Christianity. 2. ed. Boston, Beacon Press, 1999.
KUNTZMANN, R., DUBOIS, D. Nag Hammadi – O Evangelho de Tomé: textos gnósticos das origens do cristianismo. São Paulo: Paulus, 1990. (Documentos do mundo da Bíblia; 6).
PÉTREMENT, Simone. Le dieu separe – les origines du gnosticisme, Paris, Ed. du Cerf, 1984.
VIELHAUER, P. História da Literatura Cristã Primitiva. São Paulo: Academia Cristã, 2005.
WALKER, Wiliston. História da Igreja Cristã. 3. ed. São Paulo: ASTE, 2006.

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